Passos

Passos

A Story by Henrique Kasai

A vida não impressionava, a previsibilidade era tamanha que o medo nem sequer era cogitado, quiçá a incerteza. A lógica era de ferro, melhor, era de aço, nada a corroía, nenhuma intempérie ambiental desgastava meu inerte senso de realidade. A vida era chata.

Nada empolgava, nada remexia os sentimentos que tinha guardado lá longe em alguma gaveta, cuja chave nem eu sabia onde estava. Ja dizia Sinatra, alguns se empolgam com álcool, outros com cocaína, nem os céus mais me encantavam. Era uma pena que não tinha aquilo em que me viciar. Não tinha algo realmente que deixasse feliz.

Essa vida monocromática seguiu por anos e anos à fim, até que certo dia encontrei uma paleta de cores. Era a mais diversificada de todas, mais do que o lápis de cor da Faber Castell de 48 cores que todas as crianças sonhavam, mais do que as luzes do ártico. Ela era linda, uma explosão sinestésica, não só de cores, mas de movimento, aromas e canções.

Devia estar sonhando... muito provavelmente estava. Se fosse um sonho ou não, nem ligava mais, já estava inebriado demais por ela. Aquela bela figura, aos poucos a conheci, apesar de tudo, também era uma pessoa, com suas imperfeições, seu nome era Ingrid de Oliveira, me envolvi... demais.

Não conseguia mais prever o futuro, a razão encontrava obstáculos a cada observação feita, sentia medo de perder essa habilidade, mas sentia mais medo ainda de perdê-la. Quando ela estava comigo, a angústia não existia, o medo fora banido. Não precisava mais saber do futuro, porque tudo que importava era o presente. Com ela.

Aquela velha gaveta, muito empoeirada, finalmente fora aberta. Ela tinha a chave, será que ela sempre teve? Ou será que encontrou algum dia em que estávamos? Não importava, a caixa de Pandora fora aberta, tudo foi solto, inclusive a esperança.

Hoje olho para trás e vejo apenas uma sombra da antiga persona, triste, vazia, solitária. Hoje você, Ingrid, me contagiou de vida, me deu cor aos olhos e leveza a alma.

Talvez esse texto seja barroco demais, o contraste é forte, quem sabe exagerado. Mas contra um fato não há argumento que resista. Ela me salvou de mim mesmo, da corrosão da própria alma.

Permita-me Vinicius --escreveu muito bem, mas nunca conheceu amor de verdade com nove esposas-- que eu diga a mim que o amor seja imortal, posto que é energia, e que seja infinito também enquanto dure.

Te amo muito meu amor.

Henrique K.

© 2014 Henrique Kasai


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255 Views
Added on July 4, 2014
Last Updated on July 4, 2014
Tags: Ingrid, amor, mudança, epifania

Author

Henrique Kasai
Henrique Kasai

Parana, Brazil



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Everything is devoured, from dusk to dawn I aimlessly write stuff, not a better word can replace stuff in such context. Because stuff will be devoured, eventually I as well, the point is, will I devou.. more..

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